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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: www.radiohc.cu/

 

 

LINA DE FERIA

 

 

Santiago de Cuba, 1945. Poeta y ensayista. Su obra ha sido galardonada con el Premio David, Premio La Edad de Oro, Premio de la Crítica (en cuatro ocasiones), entre otros. El libro de los equívocos alcanzó el Premio de Poesia Raúl Hernández Novás.

 

 

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL  -  TEXTO EM PORTUGUÊS

 

 

 

ALFORJA REVISTA DE POESIA.  XXVII  - Invierno 2003Director José Vicente Anaya y José Angel Leyva.  Editor Luis Ignacio Sánz.  México, D.F.: Universidad Autónoma de México, 2003.  

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Poema a Gala

 

 

qué importan a mi mente las playas de este
mundo?

es solamente esta quien dava mi memoria.

LUIS CERNUDA

 

 

entré en una compuerta densa.

salté de nuevo a la zona intocable de mi vida

cuando vi la perfección ante mi reja actual

con otro cuerpo tal vez más delicado

pero esta vez sin acordeón

sin el abrigo de Berna

para mis inviernos crudos inventados

sin el Diário de nácar

       con la llavecita misteriosa
que me trajo de Guatemala
para escribir mis raros secretos de niña
problema.

 hoy entré de nuevo en una compuerta densa,
única.

YOU ONLY LIVE TWICE.

Salvador Dali parece que no entrara

pero también entró

cuánto palácio en Cadacqués

frente a la maravilla de mis pupilas dilatadas

y médio ciegas por el deslumbramiento.

y he aqui que fue Salvador Dali

el más mutable ficcionador de Gala

quien me lo dijo al oído:

nadie puede pintar a Dante en el Infierno

si no lo llevas dentro.

no tiene que ver con las ideas de una época.

no es ni siquiera una Suma

o el puente entre el medioevo y el

       renacimiento.

deja eso a los teóricos que son siempre
al menos sospechosos de alguna frustración.

hay que llevarlo dentro.

digo que el infierno hay que llevarlo dentro

 

y luego proyectarlo a cualquier hora
así

dentro de un huevo

con un ojo cascado

o como me pasa a mí

cuando entro en una compuerta densa

no con Virgilio y su arpa

sino del brazo de Segismundo Freud

apagado ya

huesito neutro.

ya que Emilio se preguntaba:

"pero el amor cómo diré que sea?

lo supe alguna vez?

lo habré olvidado?"

yo reconozco

sin desprenderme

del huesito neutro de los dos Segismundos
que creo que el amor
es esta compuerta densa
cuyo pasillo resbaladizo
me conduce a la desesperación
y a la calma intermitentes
dependiendo dei momento
en que esté observando
la completa ficción de lo que me conmueve.

al menos sé que no es mi propia imagen en el
espejo.

al menos estoy segura de que los demás existen
y que se debaten en la vida

                    dramáticamente
como también se debatió y vivió

lleno de equívocos

Emmanuel Kant

y ya por último

al menos sé que no se trata

de la confirmación de uno con el otro

ni mucho menos del terror

de aquel poeta que no quiso llegar a Paris

porque hubiera significado

perder su idea inventada de la belleza

(terrible indefensión

como una huida a Egipto).

más bien yo creo que el amor

es el contagio de una mirada

única

el aspecto desconcertante
superior e íntimo

del inquisitivo poder de esa mirada
(fuera de todo hábito y seguridad)
puesto que es
precisamente esa mirada
o el amor

lo que sostiene la regularidad de la existencia
a la vez que esta energia
y lo que sostiene la regularidad de los
suicídios.

 

si el amor

es toda puerta de entrada o de salida

es también la compuerta densa e infernal

y casi hipnótica

que me esperaba

tras esos ojos balándricos

casi errados e ingénuos y completamente

absurdos
del mistério que arribó y arribó

                  en gigantesca escala
como vorágines del caos
como la sustancia del vértigo
como el curare en la flechita de la cerbatana
paralizándolo todo

pero ya para mi desgracia y mi existencia
esencialmente inevitables.

 

 

 

 

TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de ANTONIO MIRANDA


Poema a Gala

 

 

que importam à minha mente as praeas deste
mundo?

é soment ela quem dava minha memória.

LUIS CERNUDA

 

 

entrei nuna comporta densa.

Saltei outra vez à zona intocável de minha vida

quando vi a perfeição frente à minha grade atual

com outro corpo talvez mais delicado

mas desta vez sem acordeão

sem o abrigo de Berna

para meus invernos crus inventados

sem o Diário de nácar

       com a pequena chave misteriosa
que me trouxe da Guatemala
para escrever meus raros secredos de menina
problema.

 hoje entrei outra vez numa comporta densa,
única.

YOU ONLY LIVE TWICE.

Salvador Dali parece que não entrara

mas também entrou

quanto palácio em Cadacqués

diante da maravilha de minhas pupilas dilatadas

e meio cegas pelo deslumbramento.

e eis que foi Salvador Dali

o mais mutavel ficcionista de Gala

quem me disse ao ouvido:

ninguém pode pintar Dante no Inferno

se não o levas adentro.

não tem nada a ver com as ideias de uma época.

não é nem siquer unm Suma

ou a ponte entre o medievo e o

       renascimiento.

deixa isso para os teóricos que são sempre
pelo menos suspeitosos de alguma frustração.

tem que levá-lo adentro.

digo que o inferno tem que levá-lo adentro

 

e depois projetá-lo a qualquer hora
assim

dentro de um ovo

como um olho rachado

ou como acontece comigo

quando entro numa comporta densa

não com Virgilio e sua arpa

mas do braço de Segismundo Freud

apagado já

ossinho neutro.

já que Emilio se preguntava:

"mas o samor como direi que seja?

Soube-o alguma vez?

terei esquecido?"

eu reconheço

sem desprender-me

do ossinho neutro dos dois Segismundos
pois creio que o amor
é esta comporta densa
cujo corredor resvaladiço
me conduz ao desespero
e à calma intermitentes
dependendo do momento
em que esteja observando
a completa ficção do que me comove.

ao menos sei que não é a minha própria imagem no
espelho.

ao menos estou segura de que os demais existem
e que se debatem na vida

                    dramaticamente
como também se debateu e viveu

pleno de equívocos

Emmanuel Kant

e por último

pelo menos sei que não se trata

de confirmação de um com o outro

nem muito menos o terror

daquele poeta que não  quiz ir a Paris

porque significaria

perder sua idéia inventada da beleza

(terrível desamparo

como uma fuga ao Egito).

mais bem eu creio que o amor

é o contagio de uma mirada

única

o aspecto desconcertante
superior e íntimo

do inquisitivo poder dessa mirada
(fora de todo hábito e seguraça)
porquanto é
precisamente esta mirada
ou o amor

o que sustenta a regularidade da existência
enqunto que esta energia
é o que sustenta a regularidade os
suicídios.

 

se o amor

é qualquer porta de entrada ou de saída

é também a comporta densa e infernal

e quase hipnótica

que me esperava

detrás desses olhos holândricos

quase errados e ingênuos e completamente

absurdos
do mistério que chegou e chegou

                  em gigantesca escala
como vorágens do cáos
como a substância da vertigem
como o curare na flechinha da cerbatana
paralizando tudo

mas para minha desgraça e minha existência
essencialmente inevitáveis.

 

 

*

 

 

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Página publicada em abril de 2021

 

 

 
 
 
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